Por
Jacques Diouf*
Hoje somos afetados por uma
tragédia humana de proporções gigantescas, mas a maior parte dos políticos faz vista grossa. Em um mundo que gasta mais de US$ 1 bilhão ao ano com armamentos, um bilhão de pessoas passam fome todos os dias. O número de pessoas com fome e desnutrição aumentou em mais de cem milhões no ano passado.
A cada seis segundos, morre
uma criança vítima de doenças relacionadas
com a fome. Isso representa mais de cinco milhões de crianças por ano.
Isso me enfurece. Assim,
agora faço soar um sinal e acuso. A verdade é que, durante os últimos 30 anos, o que os políticos fizeram a respeito é menos que nada. Desde meados da década de 80, em lugar de aumentar a assistência internacional à agricultura nos países em desenvolvimento, cuja meta é ajudar as pessoas pobres a se alimentar por si mesmas, os
fundos foram reduzidos quase à metade. Caíram 43%.
Alguém poderia dizer que
pelo menos agora os líderes mundiais falam do problema, já que a fome figura de maneira proeminente na agenda de seus encontros e reuniões de alto nível. É certo que, entre os flashes das fotos, fazem declarações grandiloquentes, se comprometendo com a ação rápida e decidida.
Mas, deixem-me voltar a
acusar.
Em L'Aquila, na Itália, no
mês de julho de 2009, os líderes do Grupo
dos oito países mais poderosos assumiram um compromisso solene de investir US$ 22 bilhões em três anos para ajudar as nações em desenvolvimento a produzir o alimento que necessitam para seus povos.
Mas, dez meses depois, apesar de grandes esforços para monitorar os compromissos e da criação de um fundo para o Programa de Agricultura e Segurança Alimentar Global do Banco Mundial, qual a quantia dessa ajuda prometida que chegou aos pequenos agricultores nos países menos desenvolvidos? Quase nada. Isso acontece porque as palavras são menos caras do que o dinheiro.
Mas as pessoas não podem se alimentar de palavras. Se pudessem, um bilhão de estômagos vazios estariam satisfeitos. Nos últimos 17 anos, tentou-se argumentar com os governantes, pedir e chamar a atenção para o risco de focos de violência como os distúrbios por falta de alimentos que vimos em 32 países em 2007 e 2008.
Mas a fome continua
crescendo. Por isso decidi fazer soar o aviso e
acusar, e preciso de sua ajuda. Preciso que faça o mesmo.
No dia 11 deste mês, em
diversos atos ao redor do mundo, lançamos o
projeto "1billionhungry" (um bilhão de famintos), e quero que você toque o sinal, o mais forte que puder, para despertar as pessoas, para que vejam que um bilhão de pessoas passam fome neste momento, e que entre 20 e 30 crianças morreram no tempo que levou para ler este
artigo. Quero que você faça soar o alarme, para dizer que isto é inaceitável e que deseja o fim disto. Agora mesmo!
Em setembro irei a Nova York
participar da Cúpula das Nações Unidas
sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que revisará o progresso feito nas metas adotadas pela ONU em 2000. Uma delas é reduzir pela metade a proporção de pessoas com fome até 2015, tomando por base a situação de 1990.
A maravilha das estatísticas
é que nos permitem, teoricamente, reduzir
pela metade a proporção, mas ter um número real que é maior ainda do que era no começo. Isso porque a população mundial cresce ao ritmo de 80 milhões de habitantes ao ano, e porque as pessoas não são porcentagens.
O que me interessa é quantas pessoas sofrem fome e quantas crianças estão morrendo. Em outubro levarei uma petição (disponível no site http://www.1billionhungry.org/ rlcprensa) aos governantes mundiais, por meio das Nações Unidas, para dizer-lhes que estamos fartos de viver em um mundo faminto. Para chamar sua atenção, preciso de pelo menos um
milhão de assinaturas nesta petição. Espero que você esteja com raiva.
O que me interessa é quantas pessoas sofrem fome e quantas crianças estão morrendo. Em outubro levarei uma petição (disponível no site http://www.1billionhungry.org/
Espero que esteja furioso. E quero que seu nome também figure ali.
* Jaques Diouf é
diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e a Alimentação (FAO). Direitos exclusivos da IPS.
Artigo produzido para o
Terramérica, projeto de comunicação dos
Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.
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