1 INTRODUÇÃO
O
presente artigo visa abordar o tema aprender a fazer, cuja ideia nasceu em
Jomtiem, na Tailândia, em 1990, quando a União das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO encomendou um relatório oficial a uma
de suas comissões. Esse relatório, depois de pronto, foi denominado: Educação:
um tesouro a descobrir.
Na
verdade, esse documento se constituiu no “Relatório para a UNESCO da Comissão
Internacional sobre educação para o século XXI”, que foi editado sob a forma de
livro. Ademais, foi a partir do Relatório “Educação:
um tesouro a descobrir”, que no mundo, em especial, no Brasil, a partir de
1990, ocorreu uma reformulação nas políticas sociais e econômicas, direcionadas
a educação. Situação que foi se concretizando, quando o Brasil passou a
participar de vários encontros internacionais, que foram sendo realizados para
tratar de políticas educacionais.
O mais importante, por ter sido o marco dessa
caminhada, foi a “Conferência Mundial de Educação para Todos”, realizada pela
UNESCO, UNICEF, PNUD e Banco Mundial, em Jomtiem, no ano de 1990, conforme já
mencionado. E depois, a título de registro, foi realizada uma Conferência em
Nova Delhi, Indía, de onde foi criada a “Declaração de Nova Delhi”, na qual os
países participantes assumiram o compromisso de ampliar as oportunidades de
aprendizagem para crianças, jovens e adultos, universalizando a oferta de
educação fundamental.
Adentrando ao que interessa ao presente
trabalho, no Relatório “Educação: um
tesouro a descobrir”, realizado sob a coordenação de Jacques Delors[1],
o mesmo estabeleceu quatro princípios de aprendizagem, que foram denominados de
QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO, os quais devem ser seguidos pelas nações do mundo e
são os seguintes: a) Aprender a conhecer; b) Aprender a fazer; c) Aprender a
viver com os outros; e d) Aprender a ser.
Para um melhor entendimento do que é cada um
dos princípios ou pilares da educação, os mesmos podem ser compreendidos da
seguinte forma:
1) Aprender
a conhecer – princípio que está relacionado a ideia de aprender a aprender,
no sentido de adquirir uma educação de qualidade para toda a vida.
2) Aprender
a fazer - princípio que está relacionado a ideia de qualificação
profissional, no sentido de obter competências que tornem a pessoa capaz de enfrentar
situações na sociedade globalizada, em especial, no campo do trabalho.
3) Aprender
a viver - princípio que está relacionado a ideia de união entre os sujeitos
aprendizes, no sentido de compreenderem um ao outro, de realizar trabalhos em
equipe, e assim, em grupo, se tornarem aptos a resolverem problemas.
4) Aprender
a ser - princípio que está relacionado a ideia do desenvolvimento da
personalidade, de modo que o ser humano, no processo de aprendizagem, seja capaz
de desenvolver habilidades de memória, raciocínio, capacidades físicas,
necessárias a vivência em sociedade.
Um desses princípios, o aprender a fazer é o
objeto de discussão no presente artigo, a partir da explanação do significado da
palavra aprender, para, logo após, ser possível demonstrar, em breve histórico,
o processo de aprendizagem no Brasil, desde o período colonial.
Em seguida, pretende-se mostrar que o aprender
a fazer, apesar das dificuldades existentes em nosso sistema educacional,
é possível, a partir do pensamento estruturalista e construtivista de Lev
Semyonovich Vygotsky.
Finalizando, explana-se acerca de uma
proposta do aprender a fazer no Curso de Direito, para que o aluno possa
entender o Direito, de forma a trabalhá-lo em prol da sociedade onde está
inserido.
2 O QUE É APRENDER?
Ao se consultar o significado da palavra
aprender no Dicionário Aurélio encontram-se os seguintes resultados: verbo transitivo, adquirir o conhecimento
de, ficar sabendo, instruir-se. Por conseguinte, o ser humano aprende quando
adquire conhecimento.
Peter M. Senge[2],
Diretor do Programa de Aprendizagem Organizacional e Raciocínio Sistêmico na
Faculdade de Administração Sloan, no Massachusetts Institute of Technology
(MIT), ao conceituar a palavra aprender diz que: "Aprender [...] não
significa adquirir mais informação, mas expandir a capacidade de produzir os
resultados que verdadeiramente desejamos na vida".
Infere-se
do exposto por Peter M. Senge que aprender não é só obter informação. É mais do
que isso. E sendo assim, deve-se entender que o verbo aprender não é um verbo
passivo, vez que o sujeito que desenvolve tal ação sobre o objeto a ser
conhecido, apreendido, deve adotar uma conduta de procurar saber além do que se
trata o objeto, o porquê de sua existência e para que serve o mesmo, enquanto
ser existencial.
Esses questionamentos acerca do objeto
correspondem ao processo de aprendizagem, o qual implica na forma ou
procedimento como o conhecimento é transmitido. Além do que, seria lógico questionar
se esse processo é desenvolvido pelo próprio sujeito ou há necessidade da
interferência de um segundo sujeito.
Cunha e Ferla[3]
ao tratarem da aprendizagem lecionam:
Aprendizagem é uma
modificação relativamente duradoura do comportamento através de treino,
experiência e observação [...] para que a aprendizagem provoque uma efetiva
mudança de comportamento e amplie cada vez mais o potencial do educando, é
necessário que ele perceba a relação entre o que está aprendendo e a sua vida,
pois as pessoas aprendem de maneiras diversas, conforme diferentes elementos.
Mas,
como se processa essa modificação, decorrente da experiência e da observação, a
aprendizagem? Continua a pergunta. E a resposta, não poderia ser mais lógica:
ocorre no meio em que se encontra o sujeito pensante, aquele que age sobre o
objeto de conhecimento, querendo desvendá-lo. Meio ambiente, que se identifica,
sem sombra de dúvidas, com a sociedade, vez que a convivência social é
fundamental para o homem, ser humano, no aspecto fisiológico e social, no
sentido de se alimentar de informações que lhe permitem viver no mundo e
conviver com os seres, que neste existam e habitam nele, seja o mundo natural
ou o mundo cultural.
Na
verdade, esse entendimento é resultado da Teoria Histórico-Cultural ou
Sociocultural do Psiquismo Humano, defendida pelo saudoso psicólogo bielo-russo
Lev Semyonovich Vygotsky, também conhecida como abordagem sociointeracionista.
Teoria
essa, que se fundamenta nas funções psicológicas do ser humano, que segundo
Vygotsky[4]
são classificadas de elementares e superiores, sendo as primeiras de base
biológica e, as segundas, de origem sociocultural, bem como seriam elas as
responsáveis pela interação do indivíduo com o meio no qual está inserido. E
assim ocorrendo, o ser humano aprende através dessas funções psicológicas.
Segundo
Vygotsky, o individuo, enquanto ser social, nasce e cresce em sociedade, seja
qual for. Essa realidade termina resultando para o indivíduo, em processo de
obtenção de informações, que se delineiam em uma escala de valores culturais,
as quais, somente, se estruturam a partir da intermediação de outro ser. É
preciso o contato com outros seres humanos, vez que, no entendimento de
Vygotsky, a ausência do alter, impossibilita o processo de aprendizagem.
A
título de ilustração, no trabalho teórico defendido por Vygotsky, ele verificou
que a criança, após o nascimento, detém somente funções psicológicas
elementares. Funções estas, que ao interagirem com o mundo, em especial, o
mundo cultural, resultam em funções psicológicas superiores. Mas, essa transformação
para acontecer necessita de intermediação, seja direta ou indireta, por meio das
pessoas que vão interagir com a criança. E assim ocorrendo, tem-se o processo
de aprendizagem.
Contudo,
esse processo só é possível, de acordo com o pensamento de Vygotsky, pela
intermediação de um adulto, pessoa que corresponde a figura de quem ensina, o
professor, logo, surge a necessidade de uma sistematização de conhecimentos
direcionados a esse objetivo.
Esse
trabalho de sistematização e transmissão de conhecimentos, para Vygotsky, se
faz necessário, vez que não podem, as informações obtidas, serem aprendidas
pelo sujeito pensante, sem o auxílio de um docente que lhe ofereça a
oportunidade de lidar com tais estruturas (signos, procedimentos e valores), componentes
do mundo social, no qual o ser que estar aprendendo se encontra inserido.
Os
professores Elizabeth Tunes, Maria Carmen V. R. Tacca e Roberto dos Santos
Bartholo Júnior[5],
no artigo “O Professor e o ato de ensinar”,
ao tratarem da intermediação ou mediação entre aluno e professor, no desenrolar
do processo de aprendizagem, defendem uma relação dialética, com vistas a um
resultado de criação de um ser que aprende de forma livre[6],
conforme se infere dos argumentos expostos por eles, nos seguintes termos:
[...] a
promoção do desenvolvimento de funções psicológicas admite a anterioridade do
processo de aprender, que acontece na relação com um parceiro mais capaz, que
oferece a ajuda. Ajudar é possibilitar o fazer com; é dialogar, portanto. Se o
ajudante for o professor, a ajuda é planejada e sistemática, pois o seu impacto
no aluno é esperado como realização, conforme já dissemos. Logo, é preciso
conhecer o que já há; novamente, o diálogo. Conhecer o que há para definir o
que poderá ser. Nesse jogo assimétrico, professor e aluno ferem-se, atingem-se
mutuamente. O aluno dirige o seu próprio processo de aprender, restringindo,
ativamente, as possibilidades de ação do professor. Por seu turno, o professor
é quem planeja e cria as condições de possibilidade de emergência das
potencialidades do aluno, como querem, em acordo, Buber e Vigotski: criador que
cria a criatura em liberdade. Liberdade não como meio ou como fim, mas como
parte constitutiva do ato mesmo de criação. Por isso, pode-se deduzir que,
também para Vigotski, educar é nutrir possibilidades relacionais. Nessa
perspectiva, ensinar e aprender traduzem-se num encontro que revela e que
compromete. Se, do ponto de vista científico, negamos que o professor tenha a capacidade
mística de ‘modelar a alma alheia’, é precisamente porque reconhecemos
que sua importância é incomensuravelmente maior [...].6
Ao falar
da figura do mediador no processo de aprendizagem, o professor Paulo Freire[7]
dizia que:
O bom professor é o que consegue,
enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento.
Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos
cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu
pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas.7
Surge, assim, por uma questão lógica, a necessidade
de entendermos o processo de ensino, em especial, o existente em nosso país,
para verificarmos como esse processo se desenvolveu e, também, seu estágio
atual.
Segundo a História de nossa
educação brasileira, o ato de ensinar no início de nossa colonização esteve
relacionado com a ideia de explicar um determinado conteúdo através de uma
exposição. Atividade esta, influência do modelo jesuítico de ensino, que
adentrou ao Brasil no início da colonização portuguesa, consoante já
mencionado.
Àquela época, essa formar de
ensinar estava delineada em um documento intitulado Ratio Studiorum[8],
de 1599. E de acordo com este documento, uma aula deveria ter o seguinte
roteiro:
1º)
Preleção do conteúdo pelo professor;
2º)
O levantamento de dúvidas dos alunos;
3º)
Exercícios para fixação, no sentido de possibilitar ao aluno a memorização do
conteúdo ministrado, para que tivesse condições de ser avalizado em uma prova.
Essa
dinâmica de ensino, desde o Brasil Colônia até os dias atuais, sofreu muitas
mudanças, conforme nos informa José Luiz de Paiva Bello[9],
vez que a história da educação brasileira passou por dez fases.
A primeira fase, o denominado período jesuítico, entre 1549 e 1759. Fase esta, na qual se verifica
o ensino direcionado aos indígenas, em especial, o religioso, por parte dos
padres jesuítas, dentre eles, o Padre Manoel de Nóbrega e o Irmão Vicente
Rodrigues, os quais foram os que mais se destacaram, inclusive, este último
tornou-se o primeiro professor, em terras brasileiras, e durante mais de 50
anos dedicou-se ao ensino e a propagação da fé religiosa.
A segunda
fase, que é identificada entre os anos de 1760 e 1808, é conhecida por período
pombalino, que coincide com a expulsão dos jesuítas do Brasil. Situação
que decorreu da reforma educacional imposta pela Coroa Portuguesa, através de Sebastião
José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal[10].
Reforma, que na verdade, tinha um cunho mais econômico do que educacional, vez que
o objetivo era adequar a colônia a uma política de colonização mercantilista
direcionada as fronteiras, onde situavam-se as missões religiosas. Localidades
onde a influência dos Jesuítas atrapalhava os planos de crescimento da colônia
portuguesa.
O
terceiro período, identificado entre
os anos de 1808 e 1821, é conhecido por período
joanino, em razão de
coincidir com a vinda da Família Real (1808) para o Brasil. É nessa fase que D.
João VI fundou as Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca
Real, o Jardim Botânico e a Imprensa Régia. Esse período marca o início de um
processo de educação no Brasil.
O quarto
período, denominado de período
imperial, tem início por volta de
1822, estendendo-se até cerca de 1888. Fase marcada pelo retorno de D. João
VI a Portugal (1821). E também, pela proclamação da independência do Brasil em
1822, por D. Pedro I, filho de D. João VI, que depois de ser coroado Imperador
em 1824 outorgou a primeira Constituição
brasileira. Estatuto legal, em cujo teor consta o art. 179, no qual está
escrito: "instrução primária é gratuita para todos os cidadãos".
Necessário,
ainda mencionar, com reação ao ensino no Brasil, alguns fatos importantes dessa
fase, dentre os quais:
● Em 1823
foi instituído o Método Lancaster,
também conhecido por "ensino mútuo", onde um aluno, após
receber os conhecimentos básicos para época, era responsável em ensinar uma
decúria, ou seja, um grupo de 10 alunos. E por essa razão, quem ensinava era conhecido
por Decurião.
● Em 1826
foram instituídos os graus de instrução de Pedagogias (escolas primárias), os Liceus, os Ginásios
e as Academias.
● Em
1827, por meio de uma lei, criou-se pedagogias em todas as cidades e vilas, bem
como exame para seleção de professores.
● Em 1834
o Ato Adicional à Constituição
determinou que as províncias seriam responsáveis pela administração do ensino
primário e secundário.
● Em 1835
foi criada a primeira Escola Normal do país, em Niterói.
● Em 1837
foi criado o Colégio Pedro II,
onde funcionava antes o Seminário de
São Joaquim, na cidade do Rio de Janeiro. Colégio, cuja meta era se
tornar um modelo pedagógico para o curso secundário.
A quinta fase da história de nossa educação,
é conhecida por período da primeira
república, iniciada por volta de 1889, estendendo-se até cerca de 1929.
É neste período que se verifica a criação do Ministério da
Instrução Pública, Correios e Telégrafos (1890), direcionado a educação.
Ministério que tendo a frente Benjamin Constant Botelho de Magalhães[11],
através deste, implantou a denominada Reforma Benjamin Constant
(1890), direcionada a instrução primária e secundária, em especial, ao
crescimento do ensino público e das instituições culturais.
Merece
destaque, por ser desse período, que na década de vinte ocorreu o Movimento dos
18 do Forte (1922), a Semana de Arte Moderna (1922), a fundação do Partido
Comunista (1922), a Revolta Tenentista (1924) e a Coluna Prestes (1924 a 1927).
O sexto período da nossa história
educacional, o denominado período da
segunda república, entre os
anos de 1930 e 1936, é identificado com a criação do Ministério da
Educação e Saúde Pública, em 1930.
Ademais, após a revolução de 1930 adveio a denominada Reforma Francisco
Campos, e no ano de 1931, através de decretos organizou-se o ensino secundário
e as universidades brasileiras, que até então não existiam, pois, a
Universidade de São Paulo foi a primeira.
A sétima fase de nossa história educacional,
o período do estado novo,
iniciado por volta de 1937, tendo se estendido até por volta de 1945, de acordo
com Otaíza Romanelli[12]
corresponde a um período de declínio da educação, vez que, depois da outorga
da Constituição em 1937, o novo Estado Totalitário se pautou pela implantação
de uma educação profissional, em decorrência da política capitalista abraçada
pelo novo sistema político.
Esse
período, convém registrar, é marcado pela distinção entre o trabalho
intelectual, para as classes detentoras do capital, e do ensino profissional
para as classes desfavorecidas. Exemplo dessa realidade foi a criação Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial –
SENAI, em 1942.
O oitavo período de nossa história
educacional, denominado de período da
nova república, tem início por volta de 1946, estendendo-se até por
volta de 1963. Fase esta, onde a competência do ensino passou a ser da União, razão
pela esta ficou responsável em criar leis sobre diretrizes e bases da educação
nacional.
É também
desse período a quebra do monopólio estatal com ralação a educação, através da Lei 4.024, de 20 de dezembro de 1961,
que possibilitou a Igreja Católica e aos donos de estabelecimentos particulares
de ensino fomentarem a educação nos níveis primário, ginasial e colegial, em
nosso território.
Importante
citar, por oportuno, que em 1953
foi criado o Ministério da Educação e
Cultura e, em 1961 o Professor Paulo Freire deu inicio uma campanha de
alfabetização, propondo alfabetizar em 40 (quarenta) horas adultos analfabetos,
por meio do denominado Método Paulo Freire.
O
nono período de nossa história educacional,
e o mais negro, vez que marcado pela implantação da Ditadura Militar, tem início em 1964, entendendo-se até cerca de
1985. Fase em que a nossa educação foi marcada pela prisão de professores,
pela invasão de universidades, pela criação do Movimento Brasileiro de
Alfabetização – MOBRAL, e pela instituição da Lei 5.692/1971, que dispõe sobre a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Legislação esta, praticamente voltada
a formação educacional um cunho profissionalizante.
O último período a ser ressaltado neste artigo,
diz respeito ao período da abertura
política, que tem início por volta de 1986 e termina por volta de 2003.
Trata-se de uma fase onde ocorreu o fim da Ditadura Militar e, o início de discussões
sobre a escola, a sala de aula, e a relação entre professores e alunos. Foi nesse
período que nasceu a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que
dispõe sobre a nova LDB, após a promulgação da Constituição Federal de 1988.
3 APRENDENDO COMO FAZER
Após esse
breve esboço histórico de nosso processo educacional, que passou por momentos
de altos e baixos, constata-se que, hoje, muito pouco se avançou, pois,
continuamos a ter uma grande população de analfabetos.
O
Professor de Psicologia da Educação, da Faculdade de Educação de Universidade Federal
do Rio Grande do Sul - UFRGS, e Doutor em Psicologia Escolar pela Universidade
de São Paulo, Fernando Becker[13],
aponta uma solução para essa realidade, por meio da aplicação do pensamento
construtivista, argumentando o seguinte:
Entendemos que construtivismo
na Educação poderá ser a forma teórica ampla que reúna as várias tendências
atuais do pensamento educacional. Tendências
que têm em comum a insatisfação com um sistema educacional que teima
(ideologia) em continuar essa forma particular de transmissão que é a Escola,
que consiste em fazer repetir, recitar, aprender, ensinar o que já está pronto,
em vez de fazer agir, operar, criar, construir a partir da realidade vivida por
alunos e professores, isto é, pela sociedade – a próxima e, aos poucos, as
distantes. A Educação deve ser um
processo de construção de conhecimento ao qual ocorrem, em condição de
complementaridade, por um lado, os alunos e professores e, por outro, os
problemas sociais atuais e o conhecimento já construído (‘acervo cultural
da Humanidade’). (Grifo nosso)
No caso
do ensino de terceiro grau, as conseqüências, em face da inexistência de um
ensino fundamental e médio, de boa qualidade, nos moldes do estágio atual de
nosso sistema educacional, não são positivas, vez que, grande parte dos
egressos das faculdades não está almejando o tão sonhado espaço no mercado profissional,
nas diversas áreas do conhecimento. Conclusão esta, que está relacionada ao
papel da universidade, seja pública ou privada, enquanto formadora de
profissionais capazes de competir no mercado de trabalho, nos dias de hoje. E
talvez essa situação esteja relacionada ao aprender como fazer.
Entendimento
esse, brilhantemente defendido por Claude Lessard[14],
ao tratar da universidade e da formação profissional dos docentes, quando diz
que a “[...] qualidade da mão-de-obra e a
produção de um saber de ponta nos diferentes setores de atividade são desafios
maiores para os Estados e as grandes regiões do mundo [...]”.
Tudo
o que foi escrito até agora, neste artigo, é de grande relevância para a
compreensão do APRENDER COMO FAZER.
Isto porque essa frase está relacionada diretamente com o aprender a ensinar, que
por sua vez, significa possibilitar ao aluno adquirir conhecimentos por ele
mesmo, ajudá-lo a compreender e entender o que ele está conhecendo, a ponto de
utilizar o que aprende em prol da sociedade em que vive.
Essa fala é coerente,
e dela concorda Claude Lessard, ao dizer que “[...] é claramente e cada vez mais um assunto de Estado que, pelo viés de
políticas explicitamente voltadas para este objetivo, tenta coordenar o
conjunto dos atores do campo do ensino, garantir a coerência e a sinergia de
suas ações e inseri-los no âmbito mais global das políticas educativas focadas
na economia do saber, na globalização da concorrência e na ética da
responsabilização e do desempenho [...]”
Trazendo
esse entendimento para a Faculdade de Direito, seria necessário aprender de que
maneira é possível fazer o acadêmico de Direito pensar o que se denomina
ordenamento jurídico, a saber pensá-lo, a entendê-lo, a compreendê-lo de forma
ampla.
Um
profissional da área jurídica deve ser preparado a pensar, a utilizar as mais
variadas formas de pensamento, que são fornecidas pela Filosofia. Precisa
conhecer a sociedade, por meio dos conhecimentos e teorias da Sociologia. E
precisa saber aplicar o conhecimento de forma metodológica, razão pela qual é
importante que o acadêmico de Direito domine os conhecimentos básicos da
Metodologia Científica.
Decorar
artigos de uma lei. Memorizar jurisprudências dos Tribunais, bem como suas
súmulas e enunciados, em fim, aplicar uma norma jurídica a um caso concreto não
pode ser transmitido como se fosse um cálculo de fórmula matemática. É mais do
que isso.
É
necessário o acadêmico, por meio da intermediação do professor, saber que os
seres humanos são detentores de vidas autônomas, e que, por essa razão, o que
acontece com uma pessoa não acontece com outra, da mesma forma, e na mesma relação
espaço temporal. Isto quer dizer que o acadêmico de Direito precisa, necessita
compreender o mecanismo da vida em sociedade dos seres que a compõem, e de
forma alguma, somente, o raciocínio Estatal contido em uma norma escrita.
Se
hoje, um acadêmico de Direito não sabe interpretar, ou não sabe encontrar uma
solução para um determinado problema jurídico, significa que não aprendeu a
fazer, ou ainda, que seus professores não aprenderam como ensiná-lo a fazer.
E
assim acontece, talvez seja porque o docente não aprendeu a fazer, logo, não
poder transmitir esse conhecimento, de modo a socializar com seu corpo
discente.
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fala-se
em crise no ensino. E de fato, tal afirmação seja uma realidade, vez que o
Estado não cuidou de preparar as gerações passadas e, também, as presentes,
para os tempos futuros, do que se denomina mundo globalizado.
Hoje,
é preciso repensar o processo de ensino, a partir de sua base, para que no
denominado ensino superior se tenha condições de ajudar os alunos a se
instruírem, de forma crítica e construtiva.
A
ideia de um conhecimento pronto é ultrapassada, logo, o que deve ser feito é aprender
como ajudar os aprendizes a, por eles mesmos, construírem o que a economia
tanto fala em capital intelectual.
Ou
talvez, seja muito mais do que isso. Afinal, o conhecimento tem que ser visto
como um alimento. E sendo alimento, se faz necessário prepará-lo de forma
correta a fim de que seja servido na quantidade e tempo certos, para saciar a
fome dos que estão precisam comer para viverem neste mundo.
Por
oportuno, é imperioso lembrar, que não se deve preparar o alimento de forma
errada, nem servi-lo de modo errado, para que não aconteça de quem dele se
alimentar venha sofrer males intestinais para o resto da vida.
Aprender
a fazer, é aprender como preparar o aluno para no dia-a-dia da profissão que resolveu
abraçar, se realize pessoal e profissionalmente.
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[3] CUNHA,
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[4] VYGOTSKY,
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[5] TUNES, E.; TACCA, M.C.V.R.; BARTHOLO Júnior, R. O
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[6] VIGOTSKY, L. S.2003. A
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[8] ANASTASIOU,L.G.C. Metodologia do Ensino Superior: da
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[9] BELLO, José Luiz de Paiva. Educação no
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[10] CARVALHO, Laerte Ramos de. As Reformas Pombalinas da Instrução Pública. São Paulo: Saraiva:
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[11] CARTOLANO,
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[12]
ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil. 13. ed.
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[13] BECKER, Fernando. O que é construtivismo? Revista de
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[14] LESSARD
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