O
biogeógrafo americano Jared Diamond, autor de Colapso (Record, 2005), um
tratado multidisciplinar de 685 páginas na edição brasileira que analisa as
razões pelas quais grandes civilizações do passado entraram em crise e
virtualmente desapareceram, e ganhador do Prêmio Pulitzer por sua obra
anterior, Armas, Germes e Aço (Record, 1997), em que focaliza as guerras,
epidemias e conflitos, sobre as catástrofes ambientais disse:
“Precisamos
estar preparados para um número cada vez maior de tragédias humanas
relacionadas a mudanças climáticas. O clima se tornará mais variável. O úmido
será mais úmido e o seco, mais seco. A Austrália, por exemplo, acaba de sair da
maior seca de sua história recente e agora enfrenta o período mais úmido já
registrado no país.Em Los Angeles, onde moro, recentemente tivemos o dia mais
quente da história e, há algum tempo, o ano mais chuvoso e também o mais seco
que a cidade já viu.”
“Com
frequência as pessoas me perguntam se isso ou aquilo é mais importante para
explicar o declínio das sociedades. Questões como essas são ruins. É o mesmo,
por exemplo, que perguntar sobre as causas que levaram ao fracasso de um
casamento. O que é mais importante para manter um casamento feliz? Concordar
sobre sexo ou dinheiro, ou crianças, ou religião, ou sogros? Para se ter um
casamento feliz é preciso estar de acordo a respeito de sexo e crianças e
dinheiro e religião e sogros. O mesmo se dá no entendimento do colapso de
sociedades. Fatores culturais são importantes, mas diferenças ambientais não
podem ser ignoradas. Por exemplo, as regiões Sul e o Sudeste do Brasil são mais
ricas que a Norte. Isso é por causa do meio ambiente, não porque as pessoas no norte
sejam burras e as do sul mais inteligentes ou cultas. A explicação é que o
norte do país é mais tropical e áreas tropicais tendem a ser mais pobres porque
têm menos solos férteis e mais doenças. O mesmo é verdade nos EUA, onde até 50
anos atrás o sul foi sempre mais pobre que o norte. Ao redor do mundo, esse
padrão é repetido: países tropicais tendem a ser mais pobres que os de zonas
temperadas.”
“Todas
as sociedades do mundo estão em risco de colapso. Se a economia mundial
colapsar isso afetará todos os países. Nós vimos o que houve dois anos atrás,
quando o mercado financeiro americano quebrou, afetando todas as bolsas do
mundo. Então, embora todos os países estejam em risco de colapso, alguns estão
mais próximos dele do que outros - por uma maior fragilidade ambiental, porque
são menos maduros política ou ecologicamente ou por qualquer outro motivo. Por
exemplo, o Haiti, que retornou agora às manchetes com a volta do ditador Baby
Doc, viu seu governo virtualmente colapsar e continua em grande dificuldade. O
México enfrenta dificuldades gravíssimas relacionadas a problemas ecológicos,
com a aridez de suas terras, e políticos, com a onda de assassinatos ligada ao
tráfico de drogas. Paquistão é um exemplo óbvio, Argélia, Tunísia, que também
estão no noticiário... Do outro lado, dos países com menos risco de colapso
estão a Nova Zelândia, o Butão e, na América Latina, a Costa Rica. Chile também
vai bem. E o Brasil tem melhores perspectivas que vizinhos como a Bolívia,
claro.”
Fonte: O Estado de S. Paulo, reportagem de Ivan Marsiglia
e Carolina Rossetti, em 22 de janeiro de 2011.
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